"Caros Participantes do XXII Congresso Nacional de Zootecnia,
Hoje damos início ao XXII Congresso Nacional de Zootecnia.
Em 2019, na edição anterior do ZOOTEC, estivemos reunidos em Évora, num Congresso memorável. Pouco depois entrámos em situação pandémica. Não nos vamos demorar nas dificuldades e desafios que passámos enquanto cidadãos e enquanto técnicos ligados ao setor pecuário. Os desafios resultantes da situação extrema pela qual a Humanidade passou (e ainda está a passar) ainda existem, e os impactos no setor ainda se fazem sentir. O preço das matérias-primas sobe todos os dias, aumentando os custos de produção para valores inimagináveis, o poder de compra dos consumidores aparenta decrescer… Vivemos atualmente uma situação política sui generis em Portugal... O futuro antecipa-se complexo. Juntemos a estes desafios as políticas comunitárias e as metas que são e serão colocadas à Zootecnia.
Como devem estar recordados foi publicado em Julho o relatório intercalar do IPCC relativamente ao estado do clima mundial. Este relatório apresenta dados reveladores do impacto negativo que a atividade antropogénica tem tido para o estado do clima e sua evolução estando a Humanidade a atingir metas nefastas mais rápido que o antecipado. Pedem-se, e bem, ações incisivas, rápidas e concretas para conseguir de alguma forma minimizar estes impactos e conseguir travar o aumento da temperatura. O setor agrícola no geral, e a pecuária em particular, deverá, nos próximos anos, trabalhar as suas práticas de maneio e produtivas por forma a minimizar/mitigar as emissões de GEE (diretas e indiretas), demonstrar a importância da produção animal no fornecimento de serviços eco-sistémicos e a sua contribuição para a bio-economia circular. Simultaneamente, teremos que responder a uma procura crescente de produtos de origem animal de elevada qualidade nutricional e segurança alimentar e, simultaneamente, adaptar os sistemas produtivos aos desafios que as alterações climáticas nos sujeitam ano após ano. Nos passados dias 23 e 24 de Setembro realizou-se a cimeira da ONU para os sistemas alimentares sustentáveis, e amanhã, dia 30 de Novembro, inicia-se a Cimeira do clima em Glasgow. Será expectável que na COP26 sejam reiteradas as promessas e ações com metas mais ambiciosas que as agora existentes. Paralelamente, será também expectável que ressurjam vozes, ecos, manifestações exigindo mais, e colocando grande parte da responsabilidade na agricultura e na pecuária. Nada a que não estejamos já habituados!
E, à semelhança do que temos vindo a fazer, lá estaremos prontos a responder às inverdades, à propagação de mitos, a lutar para defender a produção de alimentos de elevada qualidade nutricional, sensorial e segurança alimentar. Ter de defender esta arte tão nobre de produzir alimentos é, à falta de melhor termo, frustrante.... Ter de o fazer perante uma sociedade sedenta de bodes expiatórios, de soluções fáceis e confortáveis, é ainda mais frustrante, e ter de o fazer perante decisores políticos nacionais e europeus é... bom é triste! Mas é a realidade que vivemos.
Temos de nos unir, temos de ter uma só voz, temos de ser coerentes. De nada adianta hoje defender uma espécie, um sistema de produção e amanhã outro. E nós os Zootécnicos, temos de ser profissionais coesos, unidos, que se defendem e promovem. Que defendem e promovem a Zootecnia, independentemente da espécie animal, ou do sistema de produção. Temos de garantir as gerações futuras de Zootécnicos. E aqui, permitam-nos as entidades que formam Zootécnicos, será pertinente eventualmente repensar a curricula, adaptar a formação atual às necessidades e à realidade atual da Zootecnia, não de hoje, mas de amanhã. Adaptar conteúdos programáticos, rejuvenescer ideias, e aproximar as academias à indústria. Ouvir os empregadores será essencial, formar de acordo com as necessidades futuras do mercado de trabalho também. Uniformizar, mantendo linhas especificas de especialização a formação seria algo a pensar. A Zootecnia de precisão não é o futuro, é o presente, formar zootécnicos nestas novas áreas é necessário.
São tempos desafiantes, muito desafiantes para ser Engenheiro Zootécnico. Somos agora, ainda, mais necessários que no passado! O Engenheiro Zootécnico é o profissional que estará melhor preparado para dar à Zootecnia Portuguesa e Europeia o que ela necessita: soluções!
Somos os profissionais que temos em nós o conhecimento técnico e científico para responder aos desafios atuais.
Somos os profissionais que temos a responsabilidade de formar gerações futuras.
Precisamos de Engenheiros Zootécnicos! Precisamos de uma unidade e de uma só voz.
Hoje iniciamos o XXII Congresso Nacional de Zootecnia, são 22 reuniões técnico-científicas em Portugal a partilhar ciência. A discutir, a apresentar ideias, resultados, a encontrar soluções.
Neste dia e meio que agora iniciamos, em formato virtual, fruto de uma instabilidade a que infelizmente já nos habituámos, iremos ouvir falar de temas atuais e prementes da Zootecnia. Vamos ver apresentados, em formato virtual, cerca de 60 trabalhos submetidos, e temos mais de 200 participantes inscritos. São números que nos deixam muito satisfeitos e que mostram como o ZOOTEC se tornou NA reunião de Zootecnia em Portugal. Vamos ter, porque não deixamos que o virtual nos impeça, duas visitas técnicas virtuais, mantendo a tradição das visitas. E terminaremos com a entrega, também ela já habitual, dos prémios APEZ: melhor aluno do 1º e 2º ciclo, prémio Zootécnico do Ano, e Prémio Joaquim Lima Pereira.
É para nós uma honra, uma responsabilidade e um orgulho merecer a vossa confiança.
Não podemos terminar sem antes agradecer a todos os que tornam esta edição do ZOOTEC possível, os patrocinadores, essenciais a qualquer organização, são eles que permitem a nossa atividade e que acreditam no nosso trabalho: agradecemos a vossa confiança. Aos membros das comissões organizadora e científica, que trabalham extra-horário laboral para que este congresso seja uma realidade: Obrigada. Aos autores que submeteram trabalhos ao ZOOTEC, contribuindo para a sua realização, e partilhando a zootecnia que se faz em Portugal. Sem vocês não teríamos ZOOTEC.
E por fim, aos participantes, temos este ano em formato virtual mais de 200 participantes inscritos. Obrigada pela vossa participação.
Bem sabemos que o formato virtual fica muito aquém do encontro presencial... Lá voltaremos... em breve...
Obrigada e declaramos aberto o 22º Congresso Nacional de Zootecnia!"
Ana Sofia Santos
(Presidente da Direção da APEZ)